A rua estava aparentemente
deserta, Clara percorria o empedrado ingreme da calçada, e era a verdadeira
personificação da derrota... nunca antes um fracasso a havia perturbado
tanto...a carta fora-lhe entregue em mão naquela mesma tarde, poucas horas antes
alguém se incumbira de destruir os seus sonhos de futuro, a sua esperança!
Braços descaídos, lágrimas a
correr lentamente pelo belo rosto com uma expressão pesada, com todo o peso da
necessidade de recomeçar, a partir do zero.
A verdade é que, feliz ou infelizmente,
o dia ainda não terminara, ainda faltavam algumas horas para que clara
encontrasse o sossego possível nos braços da noite, nem que para conseguir
descansar tivesse de recorrer ao último recurso que passava por um
antidepressivo eficaz, era uma paz a prazo, mas pelo menos teria a duração das
necessárias oito horas de sono.
Perto de casa, no recanto, ele
olhava para ela, bela, perigosamente bela, o olhar predatório que ele fazia
incidir sobre Clara era evidente a qualquer observador tivesse a oportunidade
de contemplar a cena.
Todavia, eram muitos anos de
enamoramento, que nem a força das circunstâncias alterara, mas ele sabia que
não iria saber resistir ao cheiro doce do sangue que corria pelas veias de
Clara...e não resistindo, ainda assim, das duas uma, ou nada estava perdido, ou
perder-se-iam ambos.
No exacto momento em que Clara
procurava a chave de casa na sua mala, a auto-censura de Gonçalo
despareceu e ele saltou sobre a sua
amada, imobilizou-a enquanto esta gritava de pânico, e de forma violenta, mas
ainda assim com a doçura dos sentimentos nobres que por ela nutria, fez o que o
movera até ali, aquele beco recôndito, cravou os caninos no pescoço da rapariga
que, perdendo as forças, desmaiou...
Ternamente, o Vampiro segurou a
rapariga e limpou os dois fios de sangue que ainda escorriam do seu pescoço.
Era o recomeço que Clara sentira
necessário, da estaca zero, mas certamente não como ela esperara...
(By Isabel Alexandra Almeida - Os Livros Nossos)
Gostei muito do teu texto.
ResponderEliminarNada mau recomeçar de novo (mesmo que seja de uma forma que não esperávamos!)
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