sexta-feira, 23 de março de 2012

Amuleto

Quando se sentia nervosa mandava a mão à chavinha de prata que trazia pendurada no pescoço, num fino e comprido fio. Fazia questão da chavinha ficar sempre escondida debaixo da roupa. Oh! Ela tinha vergonha daquela chavinha. Primeiro porque a achava com uma total ausência de classe e a tender para o brejeiro. Em segundo, porque tinha vergonha daquela superstição da chavinha lhe dar sorte.

Sempre que havia um momento especial lá punha a chavinha: um encontro com um rapaz; o exame de condução; uma entrevista de emprego, como era o caso.

A chavinha tinha sido da sua mãe e ficara com ela quando morrera. Isso ainda lhe dava mais ganas na chave. Era uma recordação do mais banal que podia existir. Pior, tinha sido o seu pai quem lha tinha oferecido quando tinham começado a namorar, o que tornava a dita chave ainda mais vulgar.

Quando regressou a casa guardou a chavinha de prata numa pequena caixa preta que tinha para esse efeito. Ficaria lá até ser necessária outra vez. Talvez para o primeiro dia de trabalho. Não sabia… A verdade é que não tinha prova nenhuma de que a chave lhe desse sorte. Contudo, a superstição é que a levava a usá-la. Mesmo tendo a certeza do seu efeito nulo. Ou negativo, se tivesse o azar de alguém ver aquela chavinha no seu pescoço.

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