Ouço
passos na escada, o meu coração salta sobressaltado. Será ele? Encolho-me sobre
mim mesma com o temor de o ser. Fico expectante a olhar para porta e ouvir a
sua chave na fechadura. Passam à minha porta e continuam. Suspiro.
Vou
até à casa de banho limpar o meu rosto. O espelho devolve-me a imagem de um
rosto maltratado, cheio de manchas negras. Não saio de casa, tanto por medo
dele como por vergonha, não queria que me vissem assim. Derrotada. Lembro-me de
quando era mais nova, da força de viver que tinha, sinto saudades desse tempo
em que vivia sem medo, sem sobressaltos. Mas agora tudo acabou, e sei que o meu
dia-a-dia é este.
Tudo
tem que estar impecável, tudo limpo e quando chegar quer a comida na mesa, come
enquanto olho em pé ao seu lado, depois corre a casa à procura de um erro que
tenha feito. Depois sei, que vem a fúria, por estar tudo bem ou por ter algo
mal. É a mesma coisa sempre, um dia de terror, depois vêm as desculpas os
pedidos de perdão. Mas o medo fica sempre permanente em mim.
Ouço
a maldita chave que me sentencia a mais uma noite negra e prometo a mim mesma
que não vou chorar, é desta vez que não o vou.
Infelizmente um tema actual
ResponderEliminarbrilhante e com uma missão muito especial de alertar consciências para um problema social muito grave e sem interveções ainda à altura da sua verdadeira dimensão!
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