Ajoelhada em frente à tua campa as lágrimas correm-me livres
pela minha face. Sei que já não te verei novamente e nunca mais olharei nos
teus profundos olhos azuis.
Passaste anos a sofrer com a tua doença, Parkinson, vi-te
decair com o passar dos anos. Ao início tentaste controlar os tremores
pintando, existem alguns belos quadros por ti pintados, depois isso já não te
ajudava. Nessa altura, tinhas apenas que pegar na tua máquina fotográfica, o
teu grande e único amor, para que, mesmo nos teus últimos momentos, para
conseguires controlar os tremores e atravessar a rua da tua casa para o jardim
da praça com as muletas penduradas nos braços eco passos firmes sem a menor
indicação de tremores. Mas, isso era sol de pouca dura, rapidamente as forças
lhe faltavam e os tremores voltavam.
Ainda me lembro de ser pequena e morrer de medo do teu dedo
sem unha o qual tinhas cortado na guilhotina quando eras mais novo e ainda jogavas
futebol no Rio-Ave e tentavas fazer um nome em fotografia.
Tantas viagens, tantos prémios, terão mesmo valido a pena?
A vida não te premiou com filhos, viveste para o trabalho e
para nós, as tuas sobrinhas, mesmo que nem sempre te víssemos.
Foste feliz, tudo o que passaste fez-te o homem que relembro
aqui. Não consegui vir ao teu funeral, desculpa não fui capaz de te ver assim,
queria que a minha memória de ti fosse as que tenho de criança a correr atrás
de ti para a câmara escura, onde revelavas os rolos e contavas os seus
segredos, quero apenas recordar quando me ensinaste a pintar com os teus
pastéis uma bela rosa vermelha e o teu sorriso que iluminava os teus olhos
azuis.
Agora vou embora e deixar-te partir, vou seguir a minha vida
contigo no meu coração e na minha memória para sempre como aquele homem enorme
que brincava e ria como uma criança.
Que triste. Agora fiquei nostálgica!
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