sexta-feira, 23 de março de 2012

Carga Policial

Sinto algo a me atingir o braço, uma dor aguda e alucinante percorre-me, olho para este e vejo que sangro, atingiram-me com um pires ou uma chávena. Respiro fundo, acalmo-me. Não posso reagir, nem intervir, chamam-me: "Filho da puta, anda se tens coragem", respiro fundo novamente, agarro o meu cacetete com força, o punho marca-se na minha mão. Outro projéctil atinge o meu colega no nariz, este fica a sangrar e nós não nos movemos, mais insultos, mais coisas que nos atingem, nas pernas, nos braços, na cara, no capacete. Chamam-nos porcos e partem as cadeiras de um café, o dono grita: "não fazem nada?" E finalmente chega a ordem, "avancem", empunho com força o meu cacetete, baixo a viseira e avanço, consciente que posso matar alguém, essa noite sei que não vou dormir, os gritos de quem foge de mim, inocentemente, me vão perseguir até casa, onde o meu filho e a minha mulher me aguardam. Cumpro o meu dever, nem que isso me mate.

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