Um Final
O copo caiu, o líquido âmbar espalhou-se como a maré
ensopando o tapete felpudo…
A mesa de onde o copo caíra estremeceu e balançou, como num
estranho bailado, ao som da música que saia de forma contínua do rádio do outro
lado da sala…a voz quente enchia a sala gravemente…
Nas janelas as cortinas sonhavam libertar-se e vogar soltas
ao sabor do som que as inspirava e do vento que as enfunava…
No sofá, sentada entre as almofadas, qual buquê florido estavas
tu, os teus lábios vermelhos com um esgar trocista, o teu nariz levemente
arrebitado com quem enfrenta um desafio, o vestido de seda suavemente
amarrotado, sugerindo algo mais que um breve abraço amoroso, o teu cabelo angelicamente
penteado em grandes caracóis, as tuas mãos crispadas de fúria e nos olhos uma
réstia efémera da ingenuidade que eu um dia tanto amei…
Levantei-me e sai, lá fora a noite fragante envolveu-me,
recordei o teu cheiro, o teu sabor… acompanhando as memórias não o sentimento
de outrora mas algo diferente…quiçá uma saudade mas já não uma paixão…
A rua levou-me ao bar do costume, à bebida do costume e as
pessoas do costume, e nada era do costume, as músicas não soavam como quando te
tinha a meu lado, o whisky, embora da mesma marca, era estranho ao paladar e a
meus olhos as cores do bar haviam mudado.
Tudo era novo, diferente, empolgante, talvez…
No espelho por trás do bar encarei-me, sorri e brindei a mim
próprio…
Muito interessante, com uma linguagem fluída e leve. Parabéns Cátia
ResponderEliminarGostei da personagem feminina, com o seu quê de Lolita
ResponderEliminarObrigada..não tinha pensado nisso mas até que tem...
EliminarCátia, parabéns pela estreia, uma descrição muito completa e a despertar emoções!
ResponderEliminarObrigada!
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