A noite cai e com
ela um anúncio de morte chegou. Sentimo-la chegar, passar por entre nós
silenciosamente. Chega lentamente sem o menor ruído e parte levando consigo
alguém que se encontrava ao nosso lado.
O telefone tocou
pouco depois das 20 horas e um anúncio de morte veio, morreu alguém próximo. O
telefone caiu no chão e lentamente ela agachou-se a chorar. Chorava pelo que
sofrera aquela pessoa, chorava pelo que viveu com ela e que nunca mais iria
viver, chorava pela falta que iria sentir dele. Chorava por nunca mais sentir o
seu abraço. Chorava por tudo e chorava pelo nada.
Ali ficou durante
algum tempo agachada chorando, no telefone a pessoa que estava do outro lado
gritava o seu nome, implorando que voltasse a atender, mas ela não ouvia. Ela
partira para outro lugar no interior da sua mente, para um lugar onde só
habitam as memórias.
A voz do outro
lado parou só se ouvia o som intermitente do telefone e ela não se movia, as
lágrimas pararam por não ter mais água nos seus olhos, mas ela permanecia imóvel,
sem se levantar, sem demonstrar qualquer intenção de levantar o telefone e
recolocá-lo no descanso. Ela não demonstrava qualquer reacção ao mundo
exterior, parecia ter ficado presa no interior de si, perdida na imensidão do
tempo, parada naquele momento que o telefone tocou.
Batem à porta
violentamente, ela não reage, nem move os seus olhos para longe daquele ponto
fixo na parede. Batem com mais intensidade e ela nada, sem se mover. Batem
durante muito tempo até que se ouvem encontrões contra a porta para arrombarem
e entrarem. Finalmente as dobradiças cedem e conseguem entrar. Uma figura de um
homem corpulento surge por detrás da porta arrombada e é seguido por uma mulher
que entram na casa à procura dela. Vão verificando todas as divisões até a
encontrarem agachada contra a parede, com o telefone em frente dela, no quarto…